A tudo isto chamaram sonhos, e
por isso dizemos que sonhamos ter muito dinheiro, sonhamos comprar aquele carro
desportivo, sonhamos mandar em muita gente, sonhamos com aquela casa de luxo
que vimos na revista, ou que o vizinho rico colocou à venda na semana passada. A
tudo isto chamamos sonhos, porque nos ensinaram que tudo isto eram sonhos, a
menos que se tenha nascido naquela família que já tem tudo, que pode comprar
tudo, e então os sonhos são o avião particular, as viagens do outro lado do
mundo, as festas badaladas, com as celebridades de papel aos nossos pés (porque
toda a gente tem um preço).
São estes o sonhos que nos
ensinaram a sonhar, sonhos com caras estampadas, impressas em papel de luxo,
caras de escritores, de políticos, de cientistas (tudo gente morta que já não
tem sonhos) que já não cobram nada para que aproveitam a imagem que deles
restou, para dar rosto ao sonho impresso que se chama dinheiro.
Diz-se, ou dizem os que acreditam
em deuses, que a fé move montanhas, mas eu como sou um descrente direi, que o
dinheiro move montanhas, compra vidas, compra luxos, compra corpos, compra até
(queiram ou não, desmintam ou não) felicidade. Sim, aquela felicidade podre que
não serve para nada (digo eu), mas que funciona para quem sonha com ela.
E os sonhos transformam-se em
ouro, em diamantes, em pulseiras, anéis, colares, jóias, tantas jóias
penduradas em tantos pescoços, adornando tantos pulsos, tantos dedos, tantas
orelhas, e a caridadezinha aparece em forma de ajuda, com muitas fotografias,
muitas reportagens, porque as revistas e jornais vivem de fotografias de caridadezinha,
feita à medida, para que se gastem as sobras dos sonhos em público e, com isso
se esqueça o que foi feito para se construir esses impérios de cristal dourado.
Eu também já tive sonhos desses,
mas depois aprendi que esses não são sonhos. Aprendi isso bem cedo, ainda
menino. Cresci, e os meus sonhos transformaram-se em raiva cada vez que assisto
a uma sessão de caridadezinha, em raiva que grito quando vejo as injustiças que
separam quem dá e quem recebe mesmo sem querer, em ódio pelo justiça que se
constrói para proteger os sonhos que não são sonhos e são apenas caras
desenhadas no papel e mortas porque já morreram, sem sequer poderem dizer que
não querem fazer parte daqueles sonhos.
Sonho sim, continuo a sonhar como
muita coisa que quero para mim, coisas simples como que a paixão que sinto seja
completa, que o amor que dou seja recebido, respeitado, que me amem, que se
apaixonem por mim, que me inundem de cumplicidades, que me deixem entrar pelos
olhos que me olham, que continue a saber ler no silêncio as verdades que a boca
cala. Estes são os meus sonhos, sonhos que sonho todos os dias, por que luto
todos os dias, que realizo todos os dias.
Por isso me apaixono todos os
dias, por isso amo sempre, por isso consigo saber, por isso consigo sentir, por
isso VIVO AGORA.
Quem mais tem os meus SONHOS?
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