terça-feira, 20 de agosto de 2013

Quem mais tem os meus SONHOS?



Na vida aspiramos a conquistar coisas que não temos, coisas que vemos aos outros ou nos outros, que nos disseram que são boas, que nos ensinaram a desejar ter também para nós, incutindo nos nossos espíritos que são objectivos a atingir, coisas como dinheiro, boas casas, bons carros, posição, poder, domínio, propriedade.

A tudo isto chamaram sonhos, e por isso dizemos que sonhamos ter muito dinheiro, sonhamos comprar aquele carro desportivo, sonhamos mandar em muita gente, sonhamos com aquela casa de luxo que vimos na revista, ou que o vizinho rico colocou à venda na semana passada. A tudo isto chamamos sonhos, porque nos ensinaram que tudo isto eram sonhos, a menos que se tenha nascido naquela família que já tem tudo, que pode comprar tudo, e então os sonhos são o avião particular, as viagens do outro lado do mundo, as festas badaladas, com as celebridades de papel aos nossos pés (porque toda a gente tem um preço).

São estes o sonhos que nos ensinaram a sonhar, sonhos com caras estampadas, impressas em papel de luxo, caras de escritores, de políticos, de cientistas (tudo gente morta que já não tem sonhos) que já não cobram nada para que aproveitam a imagem que deles restou, para dar rosto ao sonho impresso que se chama dinheiro.

Diz-se, ou dizem os que acreditam em deuses, que a fé move montanhas, mas eu como sou um descrente direi, que o dinheiro move montanhas, compra vidas, compra luxos, compra corpos, compra até (queiram ou não, desmintam ou não) felicidade. Sim, aquela felicidade podre que não serve para nada (digo eu), mas que funciona para quem sonha com ela.

E os sonhos transformam-se em ouro, em diamantes, em pulseiras, anéis, colares, jóias, tantas jóias penduradas em tantos pescoços, adornando tantos pulsos, tantos dedos, tantas orelhas, e a caridadezinha aparece em forma de ajuda, com muitas fotografias, muitas reportagens, porque as revistas e jornais vivem de fotografias de caridadezinha, feita à medida, para que se gastem as sobras dos sonhos em público e, com isso se esqueça o que foi feito para se construir esses impérios de cristal dourado.

Eu também já tive sonhos desses, mas depois aprendi que esses não são sonhos. Aprendi isso bem cedo, ainda menino. Cresci, e os meus sonhos transformaram-se em raiva cada vez que assisto a uma sessão de caridadezinha, em raiva que grito quando vejo as injustiças que separam quem dá e quem recebe mesmo sem querer, em ódio pelo justiça que se constrói para proteger os sonhos que não são sonhos e são apenas caras desenhadas no papel e mortas porque já morreram, sem sequer poderem dizer que não querem fazer parte daqueles sonhos.

Sonho sim, continuo a sonhar como muita coisa que quero para mim, coisas simples como que a paixão que sinto seja completa, que o amor que dou seja recebido, respeitado, que me amem, que se apaixonem por mim, que me inundem de cumplicidades, que me deixem entrar pelos olhos que me olham, que continue a saber ler no silêncio as verdades que a boca cala. Estes são os meus sonhos, sonhos que sonho todos os dias, por que luto todos os dias, que realizo todos os dias.

Por isso me apaixono todos os dias, por isso amo sempre, por isso consigo saber, por isso consigo sentir, por isso VIVO AGORA.

Quem mais tem os meus SONHOS?

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