As planícies enormes e verdes
também mudam. Mudam as flores e as cores de que se vestem, mudam as árvores que
crescem aumentando a sombra que delas caí, morrem outras desfeitas pelo raio
trazido pela última tempestade, deixando no chão as marcas feitas carvão, mudam
as sementes que a brisa transporta, agora para ali, depois para além.
Muda o rugido que se ouviu, de
tom, de ameaça, de obrigação, e ecoa inundando os espaços, abanando as almas
que o temem, as que o recebem, as que se submetem, as que o acatam.
Mas os olhos que lêem não mudam.
Não mudam porque são dali, não mudam porque não temem os rugidos, as ameaças
veladas, as imposições a que não obedecem. Os olhos que lêem escutam, conhecem
aquele esgrimir, e avisam, avisam quem devem avisar, quem se está a deixar
levar, quem enleado ficou no novelo do rugido, quem abandonou a sua própria essência
e aceitou a submissão da falsa verdade.
E os corpos insinuantemente
transparentes, perderam a sua transparência e os olhos negros que falavam todas
as verdades, e que permaneciam fechados feito rugido surdo, deixaram o brilho
apagar e as verdades deixar de jorrar. E os corpos que já não eram
insinuantemente transparentes foram-se queimando ao sol, ardendo nos seus
próprios desejos abandonados que morriam, e os olhos sem brilho fixaram uma
imagem sempre igual para tapar a verdade e por isso cegaram.
E os olhos que sabiam ler viram o
rugido ser expulso pela planície, para que não destruísse outros corpos
insinuantemente transparentes, nem cegasse mais olhos negros, que mesmo
fechados continuavam a mostrar as verdades do que os corpos sentiam.
Morreu um corpo insinuantemente
transparente, cegaram os olhos fechados que gritavam verdades, mas quem sabe
não volte a jorrar do chão que o engoliu, mas quem sabe se o par de
olhos negros, fechados, não voltem a dizer as suas verdades e se abram devagar,
para voltarem a ver, voltarem a sentir, voltarem a sonhar, deixando os olhos
que sabiam ler interpretar os seus silêncios tão transparentemente verdadeiros.
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