domingo, 14 de julho de 2013

"SURPREENDE-ME" sempre!

 Adoro surpresas. Fazê-las e recebê-las.

© Chapala Dmitry

Adoro surpreender, apreciar as reacções, os constrangimentos que provocam, as alegrias que se sentem, os olhares esbugalhados, os “insultos”, as brincadeiras, as respostas, as retaliações. Imagino-as, planeio-as, preparo-as, prevejo as respostas que provocarão, o impacto, reinvento-as se preciso for, reajusto tudo, quanto mais imprevisível melhor, quanto mais inverosímil melhor, quanto mais atrevida melhor, contra a corrente, fora do contexto, enganadora quando assoma apenas, escorregadia, quente que baste e sobeje, provocadora.

A surpresa é como uma bomba que nos rebenta nas mãos, nos olhos, na boca, no corpo todo. 
Adoro ser surpreendido, agradavelmente surpreendido, porque surpreender dá muito trabalho, muito investimento, muito carinho, muito amor. Surpreender é brincar com os olhos, é pegar nos nossos sentimentos e dizer – “Vês, estou aqui, estou atento, sei que vais adorar isto que te dou, que não esperavas mas que desejavas, porque só assim o consegui sentir, escondido no teu imaginário, bem fundo nos teus olhos.”.

Mas também gosto das outras surpresas, das más, das que me desiludem, das que me magoam, das que me desfazem, porque com elas aprendo, conheço quem se deu a tal trabalho, porque decerto mereci… com elas aprendo, e quase sempre concluo que da próxima vez tenho que me empenhar mais e fazer muito pior. Provoco, porque afinal é a provocar que respiro, é a provocar que amo, é a provocar que vivo.

Mas nem todos gostam de surpresas. Até há muito boa gente que detesta surpresas. Detesta-as porque as teme, porque o desconhecido amedronta quem tudo quer controlar, por muito que se arvore e se branda a bandeira da liberdade, da tolerância, da inteligência. Parece contraditório mas não é e as surpresas são mal recebidas, rejeitadas, banidas com a maior violência da vida de cada um que assim vive.

Ainda bem que todos os dias encontro quem gosta de surpresas, quem faz surpresas, quem atira para o meu colo surpresas que me deixam sem fala, mudo na emoção que é abrir um enorme embrulho cheio de carinho, de amor, de carícias, de olhares marotos, provocadores, sensuais. Ainda bem que se pode trocar uns pelos outros, guardar o que interessa e que ficou, e desfrutar.

Adoro as palavras, as frases impensáveis, as observações desconcertantes, a máquina fotográfica que imortaliza o que se esconde numa alma escaldante, adoro a imaginação, a oportunidade, a espontaneidade. Adoro conhecer o teclado que se esconde em cada corpo, o “dó” dominador, o “ré” reanimador, o “mi” miraculoso que te aquece, o “fá” faminto de emoções e de prazer, o “sol” sol quente que me queima.

Deixa-me sempre sem fala, apaga-me todas as palavras, cega os meus olhos com esse brilho…


SURPREENDE-ME!

© ImustBeDead

2 comentários:

Anónimo disse...

Texto maravilhoso, mas previsívelmente fantástico. Sem surpresas.

Eu não sou ninguém disse...

Também adoro estas surpresas que não são surpresa, porque as notas não mudam de nome, apenas o teclado se acende noutro lugar.

Obrigado.

Beijos para ti.