© Chapala Dmitry
Adoro surpreender, apreciar as
reacções, os constrangimentos que provocam, as alegrias que se sentem, os
olhares esbugalhados, os “insultos”, as brincadeiras, as respostas, as
retaliações. Imagino-as, planeio-as, preparo-as, prevejo as respostas que provocarão,
o impacto, reinvento-as se preciso for, reajusto tudo, quanto mais imprevisível
melhor, quanto mais inverosímil melhor, quanto mais atrevida melhor, contra a
corrente, fora do contexto, enganadora quando assoma apenas, escorregadia,
quente que baste e sobeje, provocadora.
A surpresa é como uma bomba que
nos rebenta nas mãos, nos olhos, na boca, no corpo todo.
Adoro ser
surpreendido, agradavelmente surpreendido, porque surpreender dá muito
trabalho, muito investimento, muito carinho, muito amor. Surpreender é brincar
com os olhos, é pegar nos nossos sentimentos e dizer – “Vês, estou aqui, estou
atento, sei que vais adorar isto que te dou, que não esperavas mas que
desejavas, porque só assim o consegui sentir, escondido no teu imaginário, bem
fundo nos teus olhos.”.
Mas também gosto das outras
surpresas, das más, das que me desiludem, das que me magoam, das que me
desfazem, porque com elas aprendo, conheço quem se deu a tal trabalho, porque
decerto mereci… com elas aprendo, e quase sempre concluo que da próxima vez
tenho que me empenhar mais e fazer muito pior. Provoco, porque afinal é a
provocar que respiro, é a provocar que amo, é a provocar que vivo.
Mas nem todos gostam de
surpresas. Até há muito boa gente que detesta surpresas. Detesta-as porque as
teme, porque o desconhecido amedronta quem tudo quer controlar, por muito que
se arvore e se branda a bandeira da liberdade, da tolerância, da inteligência.
Parece contraditório mas não é e as surpresas são mal recebidas, rejeitadas,
banidas com a maior violência da vida de cada um que assim vive.
Ainda bem que todos os dias
encontro quem gosta de surpresas, quem faz surpresas, quem atira para o meu
colo surpresas que me deixam sem fala, mudo na emoção que é abrir um enorme
embrulho cheio de carinho, de amor, de carícias, de olhares marotos,
provocadores, sensuais. Ainda bem que se pode trocar uns pelos outros, guardar
o que interessa e que ficou, e desfrutar.
Adoro as palavras, as frases
impensáveis, as observações desconcertantes, a máquina fotográfica que
imortaliza o que se esconde numa alma escaldante, adoro a imaginação, a
oportunidade, a espontaneidade. Adoro conhecer o teclado que se esconde em cada
corpo, o “dó” dominador, o “ré” reanimador, o “mi” miraculoso que te aquece, o “fá”
faminto de emoções e de prazer, o “sol” sol quente que me queima.
Deixa-me sempre sem fala, apaga-me
todas as palavras, cega os meus olhos com esse brilho…
SURPREENDE-ME!
© ImustBeDead
2 comentários:
Texto maravilhoso, mas previsívelmente fantástico. Sem surpresas.
Também adoro estas surpresas que não são surpresa, porque as notas não mudam de nome, apenas o teclado se acende noutro lugar.
Obrigado.
Beijos para ti.
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