(art by GoharDashti)
A paixão é um desassossego, é uma
ansiedade, é um querer que faz doer, é um desejo enorme, é possessão, é
loucura, é adiar tudo para ter, é irresponsabilidade, é corpo, é carne, é pele,
é tudo. A paixão não se controla, a paixão transforma-nos em animais, que pouco
ou nada pensam, que só querem acção, tempo, mais tempo, mais tempo.
Paixão não significa amor, mas
pode ter amor, deve ter amor, é melhor se existir amor e ainda melhor se por
baixo do amor, pairar a amizade. Mas a paixão é fugaz, a paixão não é eterna, a
paixão extingue-se, apaga-se, acaba. E quando acaba, pode ser que sobre amor.
Por ser assim, por restar de algo
tão violento, tão redutor, tão açambarcador de sentimentos e sensações, olha-se
para ele com um certo desleixo, como se o amor fosse mais fácil, menos
arrebatador, menos violento, mais suave, mais completo.
É assim que muitos pensam, é
assim que muitos agem, e sem saberem porquê, destroem o que existe,”rotinando”
o que não é “rotinável”, descurando o que não é descurável, abandonando a
loucura do que não é imaginável, desaproveitando o que é aproveitável.
Mas o amor não pode ser isto, era
pouco se fosse só isto, era um autêntico desconsolo, porque amor é vida, amor é
inconformismo, amor é imaginação, amor é invenção, amor é tudo o que dizemos
que não é.
Sim, são precisas muitas
cumplicidades, que sejam alimentadas, renovadas, reinventadas, que lhe juntemos
outras, é também luxúria, é quebrar todas as regras, é contrariar todos os
medos que temos, é inventar outras dimensões, é juntar amigos, famílias, gente.
Amor é ter segredos, é respeitar
os segredos, é aceitar defeitos, é dar-se, é dar, é receber, é saber receber, é
saber agradecer, é saber ouvir e saber calar, é saber rir e saber chorar, é dar
toda a liberdade de sair e não querer voltar.
Claro que amor também é gostar de
dar as mãos, olhar bem fundo nos olhos, entender os silêncios, saber beijar o
pescoço, notar a pequena diferença, aquela novidade que a torna mais bela,
nunca dizer ou pensar que é nossa, saber ter ciúmes. Amor é sexo, muito sexo,
sempre sexo, calmo, louco, tórrido, o que apetecer e às vezes mesmo sem
apetecer.
O amor é isto tudo e ainda o que
não consigo explicar, mas que tu sentes, que o outro sente e aquele ali também.
Amor é apenas vida. O amor é
eterno (enquanto dura). Amor é guerra a dois.
4 comentários:
Como se preciso fosse dizer algo sobre isto, mas já que me atrevi.. É pura e simplesmente "divinal". Beijos
Podes continuar a assinar, não te acanhes. Gosto sempre muito dos teus comentários (merecem assinatura).
Beijos.
...li e reli, o teu reflectir. Li e reli este magestoso texto!
MAGNÍFICO AA, quero ficar na primeira fila da plateia e levantar-me em aplausos mal as luzes da ribalta se acenderem.
Beijos, poeta/escritor e amigo.
DD
Obrigado DD, também te ADORO amiga/amiga e amiga.
Fazes sempre falta por aqui.
Um beijo.
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