segunda-feira, 8 de julho de 2013

Em cada poro, em cada recanto


Há pouco reli um texto que escrevi para uma grande amiga, e ao fazê-lo deparei com algo que embora soubesse, nunca se tinha tornado tão evidente. O que escrevi tinha a ver com raiva, fúria, revolta, mas misturado com todos estes sentimentos, estava uma mulher, uma mulher que comigo os partilhou e sentiu quando os vivi, e agora outra com quem os partilhava.

Olhei para dentro e vi que era real, acontecia-me sempre, sempre, era afinal a história da minha vida. Mulheres presentes, mulheres ausentes, mulheres distantes, mulheres amantes, mulheres queridas, todas por ali.

Textos, poemas, pensamentos, esboços, quadros, retractos, momentos da vida, pedaços, estão repletos de rostos de mulheres, de corpos que me abraçam, de bocas que me beijam, de mãos que se dão, de amizade, de cumplicidade, de paixões, de amores, de desencontros e desilusões, de medos, de segredos. 

Mas porquê?

Porque em cada célula do meu corpo mora uma mulher, linda, morena, loira, ruiva, de boca vermelha, cor de fogo, ardente. Algumas estão ali desde sempre, ganharam aquele lugar com o que me deram de paixão, amor, amizade, sacrifício, momentos construídos a dois, felicidade, muita felicidade, anos, muitos anos. Noutras moram mulheres que ainda não encontrei, mas que vou conhecer, gostar, apreciar, quem sabe talvez amar, mas que já imaginei, que já pintei dentro de mim. Aqui e ali, moram as que sei que existem, mas que por mais que procure nunca encontrarei.

Existem também junto de algumas, outras, que são apenas o que eu queria que fossem, mas que não chegaram a ser, porque não quiseram, tentaram e falharam, ou apenas porque tinha que assim ser. Mas mesmo assim ficaram pregadas em mim.

Mais longe, mais escondidas, algumas completamente esquecidas, estão fotografias das decepções. Porque as guardo? Para não ter mais desilusões. Será que funciona assim? Não. Então porquê? Porque sim.

De cada vez que aparece uma nova mulher, cresce uma célula nova, nunca existirá o perigo de não haver onde a arrumar. Coloco-a sempre lá com muito cuidado (as mulheres são seres frágeis – mas que vontade de rir que agora me deu) e passa a fazer parte de mim, da minha vida, do meu corpo, dos meus sonhos. Mesmo que fuja, mesmo que me abandone, mesmo que me engane, mesmo que me fira, nunca mais conseguirá destruir o que guardei, nem apagar as cores que os meus pincéis pintaram.

Se fica, permanece, cresce, floresce, combina-se, abraça-me, misturo-me, reinvento o que tenho, apaixono-me, sim, apaixono-me sempre pelas amigas que amo, apaixono-me pelas amantes que amo, apaixono-me por todas as que apenas passam e amo, simplesmente amo.

Por isso não me dou bem com mulheres ciumentas. Sim, tu aí, e tu também, e aquela além, e a outra que permanece aqui, e a que chegou, e a que vem ali, e a que está de costas voltadas, mesmo a que se escondeu debaixo do chão, e alguém que vi cair, e a outra, e as outras, e a que é apenas ninguém, como eu…

Eu sou de cada uma delas, e cada uma delas sou eu.

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