Por detrás de cada montanha,
escondidos algures nas neves que ornamentam os seus cumes, ocultos dos
caminhantes que percorrem os caminhos sinuosos das suas encostas, anunciados no
cantar suave das copas das árvores, embaladas pelas brisas de tantas manhãs,
encontram-se mistérios insondáveis, que os amantes deixaram escapar quando
juras de amor segredavam.
Hoje, nesta noite que já
respirei, morna de primavera, quase sem vento e sem luar, encontrei um desses
mistérios, um desses segredos, que alguém abandonou à sua sorte num cume
qualquer, na esperança que alguém o desvendasse, decifrando o seu sentir,
mostrando a sua cor, cheirando o seu cheiro.
Mas não o vou fazer, nem sequer
tentar perceber o que me foi dado, não quero, prefiro manter fechado o cofre
que o contém, sem quebrar o selo, sem procurar a chave, sem levantar a tampa.
Tenho medo que se o fizer, algum
deus o queira para si e me roube até o que já senti. Tenho medo que ao
desvendá-lo, a felicidade transborde tanto que me afogue, que me submerja, que
me trucide de tão grande. Prefiro senti-la assim pequena, mas verdadeira,
bebê-la aos poucos para que dure.
Sim encontrei mais um mistério, e
por ser como tantos outros que temos, vou guardá-lo para nós, junto com os
outros que já guardámos, com os outros que continuam fechados nos seus baús de
cristal, que não se explicam, que são apenas segredos que nos dão prazer e se
adensam porque queremos, que chamamos às vezes para relembrar, que se ouvem
quando damos as mãos, que nos fortalecem quando nos abraçamos.
Sempre será assim, sempre
construiremos pequenos castelos feitos de coisas simples, onde nascerão
pequenos sonhos, mas mesmo assim simples e pequenos são lugares seguros, onde
não há mentira, onde não moram enganos, onde tudo se sabe, onde tudo se cala,
onde tudo se perdoa, onde existe verdadeiro amor, onde mora a felicidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário