O mar que existe em mim
O mar, esse desconhecido para muitos, na imensidão das suas profundas águas, calmas ou revoltas, perdendo-se na distância de tantos horizontes inalcançáveis, de tantos despertares, de amanheceres incendiários ou num cinzento entardecer.
Mar, onde a luz por vezes não
penetra, que esconde na sua escuridão monstros horrendos prontos a devorar
todas as almas, polvos enormes de tentáculos intermináveis que nos abraçam, nos
apertam, nos asfixiam, nos desfazem.
Mar onde já naveguei, onde já
vivi, onde já pensei, onde já sonhei, onde também cresci, que enfrentei tantas
vezes, que me ameaçou, que temi, que me embalou, que me levou, que me fez
voltar, que me ajudou no meu caminhar.
Mar que tudo destróis, quando nas
tuas incontroláveis fúrias invades os espaços que não são teus, revolvendo,
remexendo, arrancando, trucidando, também és um poço de carinho quando beijas o
pé do menino que pela mão da avó te vem conhecer.
Mar dos segredos, dos mistérios,
dos medos, das tempestades, das vagas alterosas, de marés, de luas, de sóis, de
tantas praias, de arribas imponentes, de espumas, de brisas e de vendavais,
onde habitam formosas sereias, que encantam, que seduzem eternamente sensuais.
Dentro de mim habita um mar.
Dentro de mim habita um mar
igual, calmo às vezes, implacável quando se enfurece ateando os maiores fogos,
afogando o discurso, misturando todos os sais, queimando-me os lábios com o seu
sal. Nesse mar moram as Sereias que com os seus cânticos me enfeitiçaram,
arrastando-me para as profundezas inabitáveis, lugares de sonho onde se arde em
paixão, se dorme envolto num manto de amor e de ternura, onde os lábios não
precisam fazer promessas porque tudo é puro, onde os corpos se enroscam
embalados pelo vaivém de cada onda.
É nesse mar que te guardo, é
nesse mar que te visito, é nesse mar que te amo, é nesse mar que te tenho,
acariciada pelo borbulhar do meu respirar, nadando livremente, sem muros, com
todos os infinitos, no eterno brilho de cada sonho.
É numa praia distante desse mar,
que sentado, espero um dia ver-te chegar.
(23.03.2013)
Sem comentários:
Enviar um comentário