quinta-feira, 28 de março de 2013

O mar que existe em mim


O mar, esse desconhecido para muitos, na imensidão das suas profundas águas, calmas ou revoltas, perdendo-se na distância de tantos horizontes inalcançáveis, de tantos despertares, de amanheceres incendiários ou num cinzento entardecer.

Mar, onde a luz por vezes não penetra, que esconde na sua escuridão monstros horrendos prontos a devorar todas as almas, polvos enormes de tentáculos intermináveis que nos abraçam, nos apertam, nos asfixiam, nos desfazem.

Mar onde já naveguei, onde já vivi, onde já pensei, onde já sonhei, onde também cresci, que enfrentei tantas vezes, que me ameaçou, que temi, que me embalou, que me levou, que me fez voltar, que me ajudou no meu caminhar.

Mar que tudo destróis, quando nas tuas incontroláveis fúrias invades os espaços que não são teus, revolvendo, remexendo, arrancando, trucidando, também és um poço de carinho quando beijas o pé do menino que pela mão da avó te vem conhecer.

Mar dos segredos, dos mistérios, dos medos, das tempestades, das vagas alterosas, de marés, de luas, de sóis, de tantas praias, de arribas imponentes, de espumas, de brisas e de vendavais, onde habitam formosas sereias, que encantam, que seduzem eternamente sensuais.

Dentro de mim habita um mar.

Dentro de mim habita um mar igual, calmo às vezes, implacável quando se enfurece ateando os maiores fogos, afogando o discurso, misturando todos os sais, queimando-me os lábios com o seu sal. Nesse mar moram as Sereias que com os seus cânticos me enfeitiçaram, arrastando-me para as profundezas inabitáveis, lugares de sonho onde se arde em paixão, se dorme envolto num manto de amor e de ternura, onde os lábios não precisam fazer promessas porque tudo é puro, onde os corpos se enroscam embalados pelo vaivém de cada onda.

É nesse mar que te guardo, é nesse mar que te visito, é nesse mar que te amo, é nesse mar que te tenho, acariciada pelo borbulhar do meu respirar, nadando livremente, sem muros, com todos os infinitos, no eterno brilho de cada sonho.

É numa praia distante desse mar, que sentado, espero um dia ver-te chegar.



(23.03.2013)

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